Para que servem os dias comemorativos internacionais? Segundo a página da Organização das Nações Unidas, o principal propósito é que essas datas sirvam de oportunidade para que se organizem atividades de sensibilização relacionadas ao tema do dia.

No dia 12 de abril de 2018, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução 72/272, que estabelece a data de 3 de junho como Dia Mundial da Bicicleta.

Essas resoluções costumam ser orientadas por princípios, valores e documentos que estejam em pauta no momento em que são editadas. Para embasar o Dia Mundial da Bicicleta, aparecem com destaque os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, as metas da Agenda 2030 e o tema mais geral do desenvolvimento sustentável.

O documento recorre a clichês usualmente associados à bicicleta, como por exemplo o fato de ser “um meio de transporte sustentável simples, acessível, confiável, limpo e ecologicamente correto, que contribui com a gestão ambiental e beneficia a saúde”. Felizmente ele também vai além do clichê quando reconhece que “a sinergia entre a bicicleta e seu usuário favorece a criatividade e o envolvimento social, proporcionando uma consciência direta do ambiente local”.

Enquanto aqueles primeiros aspectos, um tanto batidos, de fato se refiram a importantes benefícios coletivos do amplo uso da bicicleta, são estes últimos, mencionados só mais raramente, que estão intimamente relacionados a uma opção convicta e duradoura pelo uso da bicicleta, pois dizem respeito à experiência subjetiva do ciclista. A afirmação “eu pedalo porque faz bem à saúde, polui menos e ajuda a salvar o planeta” pode permear os primeiros momentos do processo de adoção, além de ser uma bela declaração em encontros sociais ou entrevistas ao telejornal local, mas é somente o contato com o prazer da bicicleta e com seus profundos efeitos no estado de consciência que sustenta a continuidade dessa escolha modal no longo prazo.

Resoluções como essa também podem incluir aspectos propositivos. A Resolução 72/272 convida os Estados-membros das Nações Unidas e todos os atores e organizações relevantes a celebrarem o Dia Mundial da Bicicleta e a promoverem sensibilização sobre o tema. Propõe que se dê particular atenção à bicicleta nas estratégias, políticas e programas de desenvolvimento, melhorando a segurança viária e integrando o modal no planejamento da infraestrutura de transportes, com medidas que promovam a segurança de ciclistas e pedestres “visando a resultados de saúde mais amplos, em particular a prevenção de lesões e doenças não transmissíveis”.

Entre as referências documentais mencionadas na Resolução está a Nova Agenda Urbana, que foi aprovada na Terceira Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável, realizada em Quito em outubro de 2016 e conhecida também como Habitat III. A Nova Agenda Urbana foi criada com a finalidade de orientar a urbanização sustentável até 2036.

No contexto da Nova Agenda Urbana, a infraestrutura cicloviária é mencionada entre os recursos urbanísticos para “garantir o desenvolvimento humano e construir sociedades pacíficas, inclusivas e participativas, bem como para promover a convivência, a conectividade e a inclusão social”.

A segurança de pedestres e ciclistas aparece como parte de uma abordagem de segurança viária pautada pelo conceito de Sistema Seguro, preconizada pela Organização Mundial da Saúde através da Década de Ação pela Segurança no Trânsito. Sabemos que um planejamento de segurança focado nos mais frágeis resulta na garantia de segurança para todos. Assim como tantos marcos legais e referências nacionais e internacionais sobre urbanismo e transportes, a Nova Agenda Urbana defende a priorização do transporte público e de modais não motorizados sobre o transporte motorizado individual.

Todo dia é bom para tomar vento na cara, e há muitas formas de celebrar a bicicleta: ação entre amigos ativistas, evento temático, um passeio especial, atividade na escola, um brinde, uma leitura. Pesquisar e aprofundar conhecimento sobre a bicicleta também faz bem para a saúde e pode alimentar boas conversas.