A cidade de Oxford, na Inglaterra, está implementando filtros de tráfego que vão limitar a quantidade de automóveis particulares na área central da cidade. O objetivo é reduzir o tráfego que atravessa a região, fazendo com que os motoristas que não têm o centro da cidade como destino desviem por outras rotas. Dessa forma, espera-se melhorar a fluidez dos ônibus, diminuir a poluição e tornar a região mais segura para pedestres e ciclistas.
A medida é parte do Plano Local de Transportes e Conectividade para o condado de Oxford (Local Transport and Connectivity Plan 2022-2050), que usa conceitos como Zona de Emissão Zero (ZEZ – zero emission zone) e Bairro de Baixo Tráfego (LTN – low-traffic neighbourhood). Filtros de tráfego são uma das formas de limitar o acesso às LTNs. Neste momento, a previsão é que os filtros de tráfego de Oxford entrem em operação em novembro de 2024 para um período de testes de 18 meses.
Nos horários em que os filtros estiverem operando, somente automóveis autorizados poderão entrar na região delimitada. Bicicletas, ciclomotores, motocicletas, ônibus, veículos de emergência e veículos urbanos de carga terão acesso permanente às áreas. O sistema funcionará por meio de câmeras com reconhecimento automático de placa, instaladas em pontos estratégicos que dão acesso à área de restrição. Ao identificarem um automóvel não autorizado, ele será multado.
Moradores, pessoas que trabalham no local e certos grupos especiais terão direito a autorizações para seus automóveis. Outras pessoas também poderão ter autorizações, eventualmente sujeitas a limites, mediante solicitação com justificativa, que será analisada pela prefeitura local.

Segundo informações de uma organização que defende a qualidade de vida em Oxfordshire, essa região apresenta o maior número médio de automóveis por domicílio no Reino Unido, com previsão de 142 mil novos carros até 2031. Daí a urgência em se criarem limites ao uso do transporte individual e incentivar outras formas de deslocamento.
Entretanto, medidas que limitam o acesso dos automóveis ao sistema viário sempre encontrarão resistência nas sociedades carrocráticas, e esses setores existem em qualquer país ou cidade. Os LTNs têm sido motivo de protestos, confrontos entre moradores e ações de vandalismo contra dispositivos já instalados nas cidades britânicas. Opositores alegam, como de costume, que os filtros de tráfego são um atentado à sua liberdade de deslocamento.
A mudança de mentalidade que vai libertar nossas sociedades da carrodependência é um trajeto longo, marcado por avanços graduais. O processo é muito bem sistematizado através do conceito de escada das intervenções (uma versão anterior do Plano de Transportes de Oxford recorre ao esquema para situar as mudanças propostas).
Limitar o tráfego corresponde ao sétimo e penúltimo degrau da escada das intervenções (‘restringir escolhas’). É natural que medidas assim despertem a fúria dos opositores. Se a instalação de infraestrutura cicloviária, no humilde terceiro degrau da escada, já provoca tanta polêmica por aqui, respiremos fundo e inspiremo-nos em experiências corajosas como esta, pois há muito trabalho pela frente.