Ao comparar bicicletas e automóveis no que se refere a mobilidade, são três as situações possíveis.
desvantagem
Em uma pista livre, a bicicleta se encontra em desvantagem de mobilidade em relação ao automóvel, que é uma máquina. A desvantagem naturalmente fica maior em uma subida e menor em uma descida.
vantagem
Nas grandes cidades, a velocidade média dos automóveis vem caindo rapidamente, e a quantidade de vias congestionadas bate um novo recorde a cada mês. Quando a via está totalmente parada, as bicicletas passam a ter vantagem de mobilidade sobre os automóveis. Mesmo quando os automóveis conseguem fazer pequenas mudanças de posição em primeira ou segunda marcha, situação em que sua velocidade média fica abaixo dos 15km/h, as bicicletas ainda estão em vantagem de mobilidade.
É cada vez mais frequente o ciclista ter que frear por causa de automóveis. Também é bastante comum o ciclista ter que esperar parado atrás de um automóvel que bloqueia a passagem quando poderia seguir livremente seu trajeto entre as faixas. Isso acontece quando um automóvel fica encurralado no momento em que tentava trocar de faixa, e quando as várias filas ficam tão espremidas na via que não sobra espaço entre elas ou nos bordos da pista.
igualdade
A situação intermediária, em que bicicletas e automóveis conseguem trafegar praticamente na mesma velocidade, se dá quando as condições da via permitem que o automóvel tenha no máximo uma velocidade entre 15km/h e 30km/h. Velocidades nessa faixa são perfeitamente possíveis para uma bicicleta. Isso depende, é claro, do equipamento e do preparo físico do ciclista, mas grande parte dos ciclistas urbanos consegue manter essa velocidade por algum tempo, quando necessário (atletas conseguem manter velocidades bem maiores que essa).
Normalmente a situação de igualdade de mobilidade dura poucos segundos. Ela logo passa a ser de desvantagem, quando a via permite que os automóveis acelerem, ou de vantagem, quando o tráfego para.
Os declives também são um fator a favor do ciclista, e nesse caso a situação de igualdade é possível em uma velocidade maior, e pode até durar mais tempo.
A situação de igualdade de mobilidade pode ocorrer em locais e momentos mais ou menos característicos: entre dois semáforos próximos, quando o da frente já é visível e está fechado, e os motoristas não aceleram tanto; por alguns poucos segundos, logo que um semáforo acabou de abrir; em locais próximos a esquinas, onde muitos automóveis fazem uma conversão e param logo em seguida; em áreas sem semáforos ou conversões, mas onde existe algum elemento (lombada, veículos manobrando, ônibus parados, excesso de veículos) impede que os automóveis acelerem mais; em qualquer situação em que o declive ajude a bicicleta a atingir uma velocidade igual à dos automóveis naquele local.
É importante avaliar as condições da via por onde você trafega para saber em que situação – desvantagem, vantagem, igualdade – você se encontra num dado momento e, principalmente, em que situação você estará no momento seguinte. Com base nisso, você decide por onde vai seguir. Dou alguns exemplos.
Nas situações de desvantagem de mobilidade, o lugar mais seguro é sempre um bordo da pista, geralmente o da direita. Se houver veículos parados ou outros obstáculos, você vai precisar ir para um ponto mais ao centro da pista, e poderá fazer isso sabendo que os automóveis em movimento vão desviar – não necessariamente de você, mas certamente do obstáculo! Existe sim bom senso e cuidado por parte de muitos motoristas, mas o ciclista, quando está em desvantagem de mobilidade, não deve contar com isso, por razões óbvias.
O bordo da via próximo à sarjeta muitas vezes oferece alguns perigos: costuma ter mais buracos que o meio da pista, pode ter veículos manobrando para entrar ou sair da via e, nos pontos de ônibus, estes param colados à calçada. Se o ciclista estiver em vantagem de mobilidade, trafegar entre as faixas é muito mais seguro nesses locais.
Quando existe um cruzamento de fluxo (por exemplo, bifurcações em que o ciclista seguirá em frente mas muitos automóveis seguirão à direita), o ciclista que está no bordo direito da pista somente conseguirá cruzar o fluxo quando o tráfego parar, seja por causa de um semáforo, seja por causa de congestionamento. Se estiver em situação de igualdade ou vantagem de mobilidade, é possível ao ciclista ocupar uma posição entre os dois fluxos (no exemplo, entre as filas que seguem em frente e as filas que seguem à direita), e poderá continuar seu trajeto sem demora e com segurança.
Nas paradas em semáforos, eventualmente você estará em um ponto mais central da pista, na frente dos automóveis ou entre as faixas, especialmente se você sabe que os automóveis da faixa da direita farão conversão à direita e você seguirá em frente. Logo que o semáforo abrir, você estará em situação de igualdade de mobilidade com os automóveis por alguns poucos segundos (certifique-se de que você está sendo visto!), e após isso a situação poderá passar a ser de desvantagem. Você terá esses poucos segundos para começar a andar, desviar de eventuais obstáculos e colocar-se rapidamente em uma posição segura, no bordo da pista.
Colocar-se no meio dos automóveis é uma atitude que sempre envolve risco. Quanto menor a velocidade média dos automóveis, menor o risco, e ele cai para praticamente zero quando os automóveis param encurralados. Tendo um mínimo de habilidade e condição física para manobras rápidas e, principalmente, conhecendo bem o comportamento dos motoristas nos locais por onde você passa, você faz um bom caminho no meio dessa bagunça toda. Em grande parte das vias da cidade ainda há condições para que os ciclistas trafeguem sem riscos desnecessários e sem tirar o espaço de ninguém.