Perguntas fechadas, como as que a ciência costuma fazer, admitem três respostas. Duas delas são bem conhecidas dentro da civilização de super-homens: sim e não.
A terceira, não sei, infelizmente é pouco usada, não porque sejam raras as situações em que alguém não sabe a responder uma pergunta, mas porque a resposta não sei geralmente é motivo de troça.
Mas pra onde vão as respostas que são, por definição ou por circunstância, não sei?
Elas se disfarçam por aí. E só aparecem em público, mesmo que nem todos a percebam, quando favorecem quem conta a história.
Por exemplo, quando se diz que Não há relações comprovadas entre celular e câncer ou que Não há relações comprovadas entre transgênicos e sinistros problemas de saúde, temas singelos como esses, com qual das três – sim, não, não sei – essas respostas mais se parecem?
As perguntas que geram tais respostas são Há relações entre uso do celular e câncer? ou Há relações entre trangênicos e sinistros problemas de saúde?, que bom que a inteligência nos permite fazer inferências. Pode haver, no mesmo estudo, outras perguntas como Quais são essas relações?, Como elas se manifestam?, Em quanto tempo? e o que mais quiserem, mas só uma é logicamente necessária para gerar a resposta que costumamos ouvir.
Dizer Não há relações é uma resposta não. Mas quando não se sabe a resposta – a ciência cultiva o hábito de só fazer afirmações verdadeiras – diz que Não há relações comprovadas.
Portanto, a resposta de que estamos falando é Pelo menos até o momento, não sei. Até aqui, foi trabalho dos cientistas.
Mas tem também quem conta a história. E eles dizem assim, como você já ouviu muitas vezes: Não há relações comprovadas entre uso do celular e câncer, ou Não há relações comprovadas entre transgênicos e sinistras doenças.
A interpretação que os que contam a história dão a essas respostas, essa sim costuma usar a frase com valor de resposta não.
Os que contam a história são um grupo de gente numericamente muito pequeno no mundo, ou mesmo numa nação. O estrago que essa história faz é por causa do numero de pessoas que acreditam e repetem.