motoristas na ciclovia

É muito comum encontrar motoristas trafegando pelas ciclovias e ciclofaixas, especialmente na ciclofaixa dominical. Mas não estou falando daqueles que invadem esses espaços com seus automóveis.

Estou me referindo aos ciclistas que se comportam como motoristas. Muda o meio de transporte mas não muda a atitude.

Tem aqueles que têm muita pressa e gostam de correr. Quando precisam ultrapassar alguém, pedem passagem de maneira bem pouco educada, exigindo que os outros limpem o caminho seu imediatamente. Ao passar, tem alguns que até olham feio ou fazem alguma expressão de falta de paciência, para mostrar como não têm tempo para essa gente lerda.

É bastante comum que esses tipos ostentem em bicicletas caras, o que é coerente com sua pose de quem tem mais direito que os outros. Deve ser igualzinho com seus carrões.

Alguns ficam buzinando para os outros usuários como quem lhes diz “sai da frente”. Assim como aquelas pessoas inconvenientes que buzinam em túneis, acreditam que sua diversão barulhenta é mais importante que o respeito aos outros e agem como uma criança que acabou de ganhar um brinquedo sonoro.

Diferentes, mas nem tanto, são aqueles que pedalam lado a lado em grupos de 2 ou 3, ocupando toda ou quase toda a largura da faixa. Vão conversando tranquilamente, sem a menor preocupação com quem precise passar por eles, seja ultrapassando, seja em sentido contrário. “Quer passar? Problema seu. Desvie, esprema-se no canto ou fique aí esperando.”

Mostram imensa dificuldade em compartilhar o espaço comum. Enquanto estiverem lá, o espaço público torna-se temporariamente privado. Agem como se estivessem na sua própria casa, mal reparam no que está acontecendo ao redor.

Todos esses tipos se comportam como donos da ciclofaixa, pois certamente se consideram os donos da rua quando dirigem seus automóveis. Nem mesmo a eliminação da bolha de aço superprotetora serviu para que eles entendam que estão em um espaço de uso coletivo e que ninguém tem mais direito que os outros ali.

Curioso como esse tipo de atitude é bem mais comum na ciclofaixa dominical do que nas outras ciclofaixas e ciclovias. E parece haver uma interessante explicação para isso.

Ao manter a bicicleta no território do lazer, a ciclofaixa dominical cria um imenso parque de diversões linear pela cidade. Com toda sua estrutura de proteção, permite não só a presença de crianças desacompanhadas, mas também de adultos que jamais teriam coragem de pedalar desprotegidos pelas ruas da cidade, usando a bicicleta como meio de transporte.

O automóvel oferece tantas formas de superproteção que dispensa o motorista de ter certos cuidados. Exatamente por esse motivo é que acontecem todos os dias tantas pequenas colisões, que contribuem para entupir ainda mais a cidade.

A ausência da bolha de aço superprotetora, por outro lado, elimina qualquer sentimento de superioridade em relação aos outros, gerando um outro tipo de relação.

Criam-se acordos de convivência bem diferentes daqueles que existem entre pessoas dentro de máquinas.

Ainda que tácitos, esses novos acordos de convivência são bastante claros para quem usa a bicicleta como meio de transporte urbano e não apenas em ambientes de lazer. Quem passa a pedalar pelas ruas com frequência percebe isso rapidamente. E mesmo que continue usando o automóvel, tende adotar outro tipo de atitude, inclusive quando dirige.

A bicicleta favorece o surgimento de uma outra ética de uso do espaço comum.

Quem faz a passagem rápida do carro para a bicicleta não tem o tempo e nem as condições de vivenciar tudo isso. Troca-se o volante pelo guidão, mas os comportamentos prepotentes continuam os mesmos.

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