Abre a porta do metrô. Aqueles que vão entrar no trem deveriam esperar a saída dos outros passageiros para, só então, embarcar. Pelo menos é o que pede a sinalização das estações e a voz que vem dos alto-falantes. E mesmo que não existissem essas orientações, deveria ser o gesto natural de qualquer pessoa capaz de um raciocínio simples e dotada de um pouco de bom senso. Mais ou menos como acontece na hora de entrar em um elevador.
Há ainda outra coisa que o bom senso, se existisse, aconselharia e que a orientação do metrô não pede: esperar as pessoas saírem significa, também, deixe livre a frente da porta para que elas consigam sair.
Mas não. As pessoas ficam plantadas na frente da porta, ansiosas para entrar, contrariadas por ter que esperar os outros. Com isso, o desembarque é muito mais lento, o embarque dos outros passageiros demora mais para começar e o resultado é que alguns não conseguem embarcar mesmo quando há espaço de sobra no trem, fora dos horários de pico.
É desesperador ver os passageiros tendo que sair um a um, em fila indiana simples, através de uma porta larga o suficiente para permitir que até 3 passageiros saiam lado a lado. O desembarque seria muito mais rápido se não houvesse a obstrução da saída.
Sabemos bem que nem todos pensam nos outros, no coletivo, no interesse comum. Mas mesmo considerando alguém movido apenas pelo interesse próprio, será que a atitude diante da porta do metrô também não deveria ser diferente? Se aquele que está fora tem interesse de embarcar, não deveria ele ajudar o desembarque a ser mais rápido para que ele mesmo consiga entrar?
Aí começa o jogo da porta.
O primeiro passageiro que se coloca na frente da porta não só atrapalha o desembarque, mas também dá o mau exemplo, formando atrás dele uma fila de pessoas a obstruir a saída. O gesto é feio, mas é justamente esse gesto que lhe garante o embarque. Esse passageiro vai com certeza embarcar no trem, pois ele é quem está melhor posicionado. Ele pode até mesmo entrar enquanto ainda há pessoas saindo. Se soar o aviso de fechamento das portas, ele simplesmente pula para dentro, vendo atrás de si a porta que fecha e, atrás dela, os outros passageiros que perderam aquele trem.
Esse mesmo primeiro passageiro poderia tomar a iniciativa de se posicionar em uma das laterais da porta, deixando livre a passagem para aqueles que estão saindo, o que tornaria o desembarque muito mais rápido. Dessa forma, ele logo poderia embarcar. Porém, se fizer isso, ele provavelmente verá um outro passageiro, que chegou depois dele, se posicionando na frente da porta, ocupando a posição que mais obstrui a passagem mas tem o embarque garantido. Assim, com um desembarque lento e com o seu lugar na fila tomado, ele corre o risco de não embarcar.
O jogo da porta consiste no dilema entre duas alternativas. Uma delas é fazer o que é mais correto e inteligente, podendo até ser seguido nesse gesto mas correndo o risco de ter o lugar tomado e perder o trem. A outra é optar pelo gesto egoísta, que costuma ser amplamente seguido pelos outros, obstruindo a passagem de quem sai, mas garantindo o próprio embarque.
Como se pode ver, o jogo da porta penaliza o gesto colaborativo e premia o gesto individualista.
O resultado pode ser observado diariamente nas estações. A escolha da alternativa egoísta é praticamente unânime.
Nas estações em que o número de passageiros em horários de pico é muito alto, a gestão do metrô instala sinalização de solo orientando o posicionamento para embarque e desembarque. Mas o esquema de posicionamento não é sempre o mesmo, e a sinalização de algumas estações contradiz a de outras estações, confundindo os usuários. O pior é que um dos esquemas existentes orienta o passageiro a justamente se posicionar no centro da porta, propondo que os que estão desembarcando passem pelas laterais, um espaço estreito, desconfortável e que torna o processo muito ineficiente.
Lidar com os fenômenos de multidão que acontecem nos horários de pico não é tarefa fácil. Mas estimular que as pessoas que querem embarcar se posicionem bem em frente à porta parece um grande equívoco. E, fora dos horários de pico, a vida poderia ser bem mais fácil se existisse um pouco mais de bom senso no uso do espaço comum.