Críticas e agressões de caráter legalista são muito comuns contra ciclistas e pedestres.
— Ciclista, pare no sinal vermelho. Se você quer uma cidade diferente, comece fazendo a sua parte.
— Pedestre, atravesse somente na faixa. Você sabe muito bem que na Europa as pessoas são multadas quando atravessam fora da faixa.
Pera lá, não venha com esse papinho.
Se você quer a Europa como modelo, as pessoas lá são multadas quando atravessam fora da faixa mas os motoristas também são multados quando deixam de dar prioridade a um pedestre que está atravessando pela faixa. Seja por causa da multa, seja pela convicção quanto ao que é certo ou errado, ali existe respeito à faixa de pedestres.
Lá os ciclistas são multados por queimar um sinal vermelho mas têm, de fato, prioridade e respeito na circulação. Lá, um motorista que mata ou fere um ciclista certamente será punido.
Se a ideia é que todos cumpram a lei, pedestres e ciclistas serão os primeiros a apoiar.
Andar um pouco mais para atravessar na faixa seria um esforço bem pequeno em troca do respeito à faixa de pedestres. Partir um pouco antes da abertura do semáforo para se colocar numa posição de maior segurança seria uma manobra desnecessária se pudéssemos dividir a rua com motoristas mais empenhados em respeitar do que em agredir.
Seria uma troca justa.
O lado mais fraco só tem a ganhar com a aplicação efetiva das leis que, equilibrando as forças, organizam a convivência. O não cumprimento de leis geralmente só beneficia o lado mais forte. E a nossa legislação de trânsito está cheia de leis em desuso ou mesmo leis que nunca foram aplicadas. Neste engraçado país, há leis que pegam e leis que não pegam.
Pedestres e ciclistas são aqui a parte mais interessada em que a lei seja cumprida. Só não dá para aceitar esse discurso hipócrita propondo que justamente o lado mais vulnerável “comece fazendo a sua parte”.
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