paisagem urbana

Localizada na borda de um morro, esta praça costumava ser um local para apreciar a vista da cidade. Tanto que ganhou o nome de Mirante da Vila Gomes. Só que a vegetação cresceu.

Foto: Dionizio Bueno (março/2021)

A folhagem é linda, forma uma parede verde que envolve aquele espaço. Porém a praça perdeu um de seus atrativos mais especiais.

Outros usos continuam existindo, como se pode comprovar em alguns minutos de observação no local: levar o cachorrinho fazer cocô, encontrar vizinhos e conversar, fumar um cigarro, praticar nos aparelhos de ginástica, sentar no banco e olhar a rua. Esses são os usos possíveis de praticamente qualquer outra praça da cidade. Esta, por sua posição, tinha um uso peculiar, e agora não tem mais.

Uma foto tirada pouco mais de dois anos antes da anterior dá uma pequena ideia da vista que havia. Em primeiro plano, o casario do outro lado do vale logo atrás. Depois, as árvores do espigão onde passa a rodovia Raposo Tavares. E ao fundo, o horizonte de prédios lá para os lados da Vila Sônia, a alguns quilômetros dali.

Foto: Murilo Capelini (janeiro/2019)

Espaços públicos bem aproveitados em todas suas potencialidades tornam-se lugares vivos, cheios de gente, acolhedores. São um convite para que as pessoas estejam ali convivendo, em vez de ficarem isoladas em espaços privados.

Queremos muitas árvores e áreas verdes em nossa cidade, mas é também preciso compreender como o excesso de vegetação pode, em algumas situações, ser um fator limitante. Praças com mato alto onde deveria haver um gramado não são atrativas. Locais com excesso de cobertura arbórea tornam-se escuros e transmitem sensação de insegurança. Uma parede de vegetação cria pontos em que as pessoas não se sentem vistas, e isso traz sensação de vulnerabilidade. E, como mostra o exemplo desta praça, inviabilizam um mirante.

Casos como esses mostram que, mesmo quando se trata de verde, mais não é necessariamente melhor.

A paisagem urbana é um elemento importante das cidades. Cenários como o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro, a Cordilheira dos Andes em Santiago e o Monte Fuji em Tóquio tornam esses lugares únicos. Em alguns casos, o valor da paisagem pode inclusive ser monetizado: apartamentos com uma vista bonita são mais caros que imóveis equivalentes porém sem a vista.

Se a topografia de um espaço público proporciona uma bela vista que pode ser desfrutada por todos, é difícil entender como isso pode ser jogado fora, seja por gesto intencional ou por descuido.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s