ansiedade

– Calma, filho, você está muito ansioso!

– O que é ansioso?

– Ansioso é quando a gente está com pressa sem nenhum motivo.

Dessa cena doméstica, surge uma definição prática e direta de ansiedade. Mais até do que sem motivo, é um comportamento impaciente desprovido de razão. Talvez nem toda ansiedade seja pressa sem razão, mas toda pressa sem razão é ansiedade. E o cotidiano urbano reproduz a ansiedade de maneira fértil.

Olhar o relógio o tempo todo não vai fazer o momento esperado chegar mais rápido. Ainda que muita gente tenha dificuldade de aceitar isto, ficar ligando para alguém que está a caminho para perguntar onde está não vai encurtar o trajeto nem fazer o tráfego fluir mais rápido. Talvez aquele que sofre de impaciência até entenda isso, e aqui está o poder da ansiedade: ela se sobrepõe a qualquer esforço de razão, deixando a pessoa totalmente possuída. É um estado agudo de irracionalidade, sofrimento mental. Um surto.

São esses psicopatas que aceleram loucamente mesmo sabendo que o semáforo cinquenta metros adiante está vermelho, muitas vezes ultrapassando pela direita em vias urbanas apertadas, colocando em risco a vida de quem pedala pela cidade.

É engraçado ver as pessoas de pé, fazendo fila para entrar na sala de espetáculo que nem abriu ainda, mesmo com os lugares já reservados e marcados. Idem na sala de embarque de um aeroporto, com o movimento de embarque ainda por iniciar ou fluindo a conta-gotas. Lembrando que os assentos na aeronave também já estão marcados, e o avião só sai depois que o último entrar. A irracionalidade é tanta que tem gente que chega a pagar para entrar primeiro no avião.

Repare na poesia do texto publicitário: “diminua seu tempo de espera”. Como assim? Poderiam ser mais sinceros: “Passe mais tempo esperando dentro do avião, afinal você está pagando caro para estar ali”. Imagem: reprodução de página de compra de passagens de companhia aérea.

Só para lembrar: todos chegarão juntos ao destino. O capital, que atua com cada vez menos escrúpulos, percebe a oportunidade e fatura com isso. Veja que não é somente por meio da indústria de medicamentos psiquiátricos que a ansiedade é benéfica para a economia.

Enquanto alguns lá fora ganham dinheiro, no corpo de cada um a ansiedade coloca o organismo em estado de alerta, como o de um animal ameaçado por um predador, provocando tempestades de adrenalina e cortisol. O efeito imediato de uma situação de ameaça é justamente sair do racional: é preciso fugir, lutar ou se esconder. Viver assim, sem trégua, é prejudicial para qualquer organismo, gerando males e doenças sinistras.

Ninguém está aqui para viver constantemente em estado de alerta. Aliás, as sociedades humanas começaram a se agrupar em cidades justamente para se proteger de ameaças, não era isso? Hoje, para muita gente, o modo de vida urbano é, fisiologicamente falando, a própria ameaça.

Ao contrário da criança que pergunta a cada dois minutos, durante um trajeto, se já está chegando, um adulto tem – ou deveria ter – consciência de seu estado mental, da completa inutilidade prática de certas atitudes e da importância, para a saúde física e mental, de perceber esse estado e saber sair dele.

Frequentemente aparecem aconselhadores nos veículos de comunicação constatando que a vida urbana gera muita ansiedade e sugerindo que as pessoas busquem ajuda profissional. Quando dizem buscar “ajuda profissional”, geralmente estão falando de profissionais da saúde mental: psicólogos ou psiquiatras. É uma pena que raramente estejam falando de um professor de educação física, aula de ioga, natação uma vez por semana. Há também muitas práticas que dispensam o profissional, necessitam apenas de uma decisão pessoal e ficam ainda melhores se tiver a companhia de amigos: caminhar nas calçadas ou praças, pedalar pela cidade, praticar esporte em equipamentos públicos como os Clubes da Comunidade.

Para controlar as crises, nada é melhor do que tomar vento na cara. Se falta a bicicleta, se está chovendo, basta abrir a janela. Ou simplesmente parar tudo e respirar.

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