Nunca vi médico prescrever passeio no parque três vezes por semana, sair para dançar com os amigos, ficar uma hora por dia em um lugar público ao ar livre, tomar vento na cara, ir à piscina ao menos uma vez por semana, sentar-se ao ar livre quinze minutos por dia e ficar simplesmente olhando.
Recomendar, tem até os que recomendam. Mas qualquer um sabe que essas práticas fazem bem para as pessoas, não precisamos de médicos para recomendar, isso até revistinha de saúde faz. Eu falo é de prescrever: usar da autoridade técnica que só médicos têm para efetivamente conseguir que a pessoa adote hábitos saudáveis.
Se alguém está com uma infecção e o médico prescreve sete dias de antibiótico, a pessoa vai lá e toma. Se alguém machuca a perna e o médico prescreve dez sessões de fisioterapia, a pessoa vai lá e faz. Mas se a pessoa está triste, ansiosa, com manchas na pele, certas alergias, gastrite, desânimo, insônia, baixa imunidade e outras condições que a ciência ou a vida já comprovaram estarem associadas à cabeça, talvez houvesse muitas alternativas a tentar antes de mandar o paciente tomar antidepressivo ou cortizona.
Ou, ao ver que a pessoa necessita de ajuda de um profissional, antes de encaminhar a pessoa para um psiquiatra ou uma terapia, poderia encaminhá-la para um professor ou professora de educação física, uma prática de yoga ou arte marcial, sessões de massagem, uma oficina de bordado ou xilogravura, vivências em grupo junto à natureza, de preferência um pouquinho desafiadoras fisicamente.
Certa vez um médico me recomendou que eu lesse gibi. Era um acupunturista chinês, mal falava português. Diagnosticava pelos métodos tradicionais da medicina chinesa (baseado em sinais do corpo e não só nos relatos) e se comunicava com seus pacientes brasileiros por meio de seu aprendiz-assistente, também chinês, mas que falava um pouquinho melhor a nossa língua. “O doutor está perguntando se você gosta de ler gibi. Dar risada faz bem, deixa você alegre e menos preocupado, seria bom para você.” Ponto fora da curva.
Bom mesmo seria se não precisássemos da autoridade dos médicos e fosse mais fácil seguir os toques de pessoas queridas que nos conhecem bem e nos veem de fora. Em nome do livre arbítrio, insistimos em caminhos nocivos. Tomar remédio é bem mais fácil, prescrever remédio é bem mais fácil.
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