Construíram ciclovias nos canteiros centrais das avenidas.
Em alguns casos, havia uma calçada ali. Em outros, um belo gramado com árvores.
É natural que os pedestres continuem usando esse lugar, pois é muito bom caminhar pelo canteiro central.
Só que o projeto ignorou os pedestres. Nesta cidade, é comum que os pedestres sejam ignorados.
Muitos desses canteiros centrais largos, gramados e arborizados têm espaço suficiente para comportar, além da ciclovia, uma calçada para pedestres. Poderia haver uma sinalização clara indicando onde é a área para pedestres e onde é a área para ciclistas. Seria mais confortável e mais seguro para ambos. Nada disso foi feito.
Em alguns casos, simplesmente pintaram de vermelho a área cimentada que já existia e passaram a chamar aquilo de ciclovia.
Não são ciclovias, são calçadas pintadas de vermelho. Os pedestres estão certos em continuar ali.
Os problemas surgem porque as pessoas daqui têm o péssimo hábito de ocupar o espaço público sem a menor preocupação com os outros usuários.
Esse comportamento tão generalizado parece ser um traço da cultura brasileira.
As pessoas se esquecem que estão em um local de passagem, e isso independe da forma de deslocamento. Fazem isso quando estão a pé (como ilustrado aqui e aqui), de bicicleta (como mostra o texto aqui) ou de automóvel (assunto de diversos textos deste blogue, especialmente estes aqui).
Ao caminharem pela ciclovia em grupos, alguns pedestres fazem questão de andar lado a lado, ocupando toda a largura da via. Percebem um ciclista se aproximando em sentido contrário e mal se mexem até que ele chegue bem perto e praticamente tenha que parar. Então, abrem um espaço mínimo para a passagem, com a expressão de má vontade de quem está fazendo um favor contrariado.
Se o ciclista vem de trás, é obrigado a chegar perto e pedir licença, pois em nenhum momento lhes ocorreu de olhar para trás de vez em quando para ver se vem alguém. Esse comportamento acaba estimulando nos ciclistas o chatíssimo hábito de andar buzinando para limpar o caminho, como se fossem motoristas ou motociclistas.
Há ainda aqueles pedestres que fazem da ciclovia o lugar perfeito para suas reuniões sociais. Encontram amigos e formam rodas de conversa justamente na área de passagem, também sem qualquer preocupação em olhar em volta para ver se alguém precisa passar.
E ai daquele que ousar lhes chamar a atenção.
Provavelmente ouvirá alguns resmungos e ainda corre o risco de ser insultado, só para lembrar que está no Brasil, esse país em que as pessoas estão sempre certas.
A falta de capacidade para conviver no espaço comum é tanta que acabam se formando situações de desentendimento que realmente não precisavam existir. Ciclistas e pedestres entram em conflito quando deveriam se sentir do mesmo lado, defendendo o seu espaço em uma cidade infestada de máquinas.
Putz, fui transportada para 2008, ciclovia do canteiro central da Avenida 1 que leva à entrada da Unicamp. Muitos pedestres emparelhados caminhando. Um dia, na descida perto do Tilly Center, estourou o freio da minha bicicleta e eu atropelei um pedestre na ciclovia. Fui de cabeça na bunda do sujeito e caímos os três: eu, ele e o amigo dele. Levantei dizendo que ciclovia é pra bicicleta.
Ciclovia na é calçada e os pedestres não dão passagem para o ciclistas, simplesmente ignoram, andam em grupos um ao lado do outro, chegando a interromper ambas as faixas, com cachorros, idosos, crianças sem a mão dada… Desrespeito total, bem coisa do povo brasileiro, que cobra direitos e desconhece a palavra deveres. Pedestre na ciclovia oferece perigo.