O que é mais perigoso: andar de bicicleta a 15km/h ou a 45km/h?
Pedalar mais rápido não necessariamente implica um aumento do risco. E pedalar mais devagar não necessariamente implica um aumento da segurança. Obviamente o impacto, a dor e o dano aumentam com a velocidade, mas o que está em questão aqui não é o resultado do choque ou tombo, mas a probabilidade de ele acontecer.
É perfeitamente possível estar seguro numa bicicleta a 45km/h, ou até mais, uma vez que se esteja no controle da situação. Ainda que possamos falar em aspectos objetivos que contribuem para isso, somente o próprio ciclista é capaz de sentir e avaliar se a situação está sob controle ou fora do seu controle.
Alguns elementos do que estou chamando aqui de controle: atenção total, autoconfiança, conhecimento da bicicleta em que se está pedalando, posturas de segurança. Se qualquer um desses estiver ausente, a merda pode acontecer a qualquer momento. É impressionante como nós somos capazes de perceber claramente a falta de controle.
Em muitos relatos de pessoas que se machucaram, encontramos frases como “um pouco antes de cair eu senti que aquilo ia acontecer”. Nesse momento, a pessoa sentiu que perdeu o controle da situação.
Atenção total inclui visão, audição, tato (o vento tem significado) e, sobretudo, concentração no que você está fazendo.
Autoconfiança é o resultado de uma avaliação objetiva e subjetiva da situação em que você se encontra em relação às habilidades que só você sabe e sente que tem.
Cada bicicleta tem um peso, um equilíbrio e uma resposta dinâmica de suas funções mecânicas (freio, transmissão, pneus, guidão), e é necessário um pouco de vivência com ela para conhecer como ela vai se comportar. Repare que eu não falei e nem vou falar aqui do estado de conservação ou funcionamento da bicicleta. Mesmo que ela não esteja perfeita, se você conhecer as condições dela o limiar do controle apenas se desloca, e você adapta suas atitudes a isso.
As posturas de segurança se referem à forma como o seu corpo se integra à bicicleta: mãos sobre os manetes de freio, apoio firme sobre o selim, contato consistente dos seus pés com os pedais, posição do seu corpo, sua cabeça, seu olhar.
Por questão de coerência, vou encerrar por aqui esta apresentação. O controle não se descreve, ele deve ser sentido. O controle não se ensina; aprende-se. A ideia aqui é simplesmente apresentar o assunto para que, observando isso em sua própria vivência, você possa reforçar a sua confiança. Ainda que alguém de fora critique algum gesto seu, se você tem a sensação de que está seguro no que está fazendo, provavelmente você está mesmo.
Um ciclista descendo uma rua vazia a 15km/h numa bicicleta desconhecida, distraído, sem confiança, bêbado ou fazendo qualquer gesto irresponsável muito provavelmente está sem controle da bicicleta e da situação. Ele está correndo um risco maior que alguém descendo uma estrada a 55km/h mas que sabe o que está fazendo.