Nas montanhas da Serra da Mantiqueira, no sul de Minas Gerais, nasce o Jaguari, rio da onça. Vem descendo por Camanducaia, Itapeva e Extrema, como um viajante que vai de Minas para São Paulo. Sem perceber, cruza a divisa de estados, e então é represado. No cativeiro, conhece o Jacareí, rio do jacaré, que passa ali bem pertinho e vira represa logo depois de atravessar Joanópolis. As máquinas cortaram a montanha e fizeram um canal, permitindo que os dois lagos se comuniquem. Fundidos os dois rios, está formada a represa Jaguari-Jacareí.
A 844 metros de altitude, essas águas são colocadas dentro de um túnel, e então começam a descer rapidamente. Vão sair dele na altitude de 821 metros, em outro grande lago. É o rio Cachoeira, que também vinha de Minas mas foi represado pouco antes de chegar a Piracaia. Surge outro túnel, e essa água começa de novo a descer até cair, a 787 metros de altitude, na represa do rio Atibainha. Estamos em Nazaré Paulista.
As poucas águas que escapam das represas seguem os caminhos que lhes eram destinados quando nasceram. O Atibainha cruza a SP-036 e a SP-065. Logo ali, em Bom Jesus dos Perdões, encontra o Cachoeira. Dessa união forma-se o Atibaia, que passa em baixo da BR-381 e vai embora, seguindo de perto a SP-065. Em Itatiba, cruza a SP-063 e a SP-360. Na região de Campinas, cruza a estrada de ferro Mogiana, a SP-340, as ferrovias da Sorocabana e da Fepasa, a SP-332, e finalmente chega em Americana.
O Jaguari, que vinha vindo lá de Minas, segue quase paralelo, pouco mais ao norte. Atravessa a BR-381 pouco antes de Bragança Paulista, onde vai cruzar a SP-008 e a SP-095. Encontra a SP-360 em Morungaba, a SP-340 em Jaguariuna e a SP-332 em Paulínia, para então chegar também a Americana, onde se junta ao Atibaia. Está formado o Piracicaba, que vai se jogar no Tietê 115 quilômetros rio abaixo.
Mas voltemos a Nazaré, onde boa parte da água dos primeiros formadores do Piracicaba ficou represada, com um destino que não mais será as terras de pescadores e violeiros do interior do estado. Essas águas começam a correr por um canal a céu aberto, naqueles 787 metros de altitude em que estávamos, até encontrarem mais um túnel. Só que este túnel faz algo que aqueles outros não fazem: por baixo da montanha, atravessa o divisor de águas. E assim, estas águas deixam definitivamente de pertencer ao Piracicaba. Quando voltam a ver a luz, ainda contidas num extenso canal, elas se encontram na bacia do Alto Tietê. Estão sendo conduzidas para a capital.

Antes de lá chegarem, mergulham numa quarta represa, a do rio Juqueri, em Mairiporã, a 745 metros de altitude, já ao pé da Serra da Cantareira. Atravessar essa montanha não será tão simples. Se até agora elas se deslocaram só por gravidade, mesmo quando dentro de túneis, desta vez elas terão que ser recalcadas. Pela força de um sistema de bombeamento, são elevadas a 855 metros de altitude e chegam na represa de Águas Claras, no alto da Cantareira. A partir daí, seu destino é o uso humano e industrial. Vão abastecer em parte uma das aglomerações urbanas mais intrigantes do mundo.
SP-036, estrada do Rio Acima, SP-023 e estrada de Santa Inês compõem a rota que mais de perto acompanha essa viagem. Nossos caminhos frequentemente cruzam ou seguem caminhos de água, muitas vezes sem que nos demos conta. Na bicicleta, que nos deixa sentir o relevo com as pernas, sabemos que ao cruzar um vale geralmente estamos no início de um trecho em ascensão. A pressa pouco vai ajudar agora. Bom momento para conhecer o vale e seus sons, seus frutos, seus cheiros. O vale é o domínio de um rio. Cada ponte indica o encontro com um caminho de água. Que história corre ali em baixo?
Texto muito agradável de se ler; dá até para “ouvir” os sons das águas seguindo seus caminhos, naturais ou construídos.
olá fiz contato com alguns de seus componentes aqui em Alvorada Tocantins até me presentiaram com adesivo e fotos fiquei muiito feliz, gostaria de receber mais de seu grupo, sou apaixonado por motos , apesar de minha profissão, sou técnico em radiologia e ortopedia. kkkkkkkk