invasão das bicicletas

Uma cidade do tamanho de São Paulo não pode se contentar com apenas uma Bicicletada.

É verdade que nas regiões centrais estão os tomadores de decisão, os repórteres da imprensa mais influente e as avenidas que adoramos parar com uma massa de ciclistas. Isso seria um argumento para concentrar a mobilização em um ato único.

Porém, é nos locais distantes do centro que mais ciclistas são mortos, sem que haja qualquer repercussão; é aí que a fiscalização de trânsito está mais ausente, fazendo das ruas literalmente uma terra sem lei; é nas periferias que a resistência contra a implantação de ciclofaixas se manifesta da forma mais truculenta.

Além de tudo isso, não faz sentido que um território tão imenso, onde cabem tantos municípios de tamanho mais razoável, tenha um protesto só, apenas porque tem um prefeito só. São Paulo precisa de Bicicletadas pipocando pela cidade toda, brotando da terra como se fosse resultado de uma ação de ativistas verdes que jogam bombas de sementes por toda parte, para ver a vida florescer.

Essa imagem das Bicicletadas simultâneas, que me inspira há anos, parece estar se concretizando, o que é motivo de muita alegria. Acontece hoje, já pela segunda vez, a Bicicletada da zona leste, com concentração em Ermelino Matarazzo.

Imagem: divulgação

Na última sexta-feira do mês passado, aconteceu uma primeira pedalada desse tipo na região, após a exibição do filme Outro Rolê. Há uma coincidência inspiradora aqui. No evento considerado como marco original da Massa Crítica no mundo, ocorrido em 1992 na cidade de São Francisco (EUA), ciclistas também assistiram um filme sobre bicicletas na cidade, só que depois da pedalada. Esse primeiro ato teve um outro nome, e Massa Crítica foi adotado só a partir do seguinte, quando já haviam decidido levar a coisa a sério.

O segundo de uma série de eventos é sempre muito importante. É sinal de que já estamos além do mero acaso, agora é resultado de vontade e mobilização planejada. Já é reincidência.

A Bicicletada de hoje na zona leste é um passo importante e muito simbólico em direção ao momento em que, na última sexta-feira de cada mês, a cidade verá bicicletas brotando por toda parte. Mais ou menos como se uma pessoa tivesse jogado de um helicóptero, “da mesma forma que se joga orégano em pizza”, sementes de luta e vontade de tomar vento na cara.

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