Imagine se de cada grande centralidade regional de São Paulo começasse a brotar, na última sexta-feira de cada mês, uma concentração de bicicletas que saísse numa pedalada em protesto por mais respeito, espaço e visibilidade para os ciclistas. Um dia por mês, ciclistas mobilizados começariam a pipocar pela cidade inteira.
Haveria de fato muitos ciclistas por todos os cantos, e não apenas restritos à região da avenida Paulista e do trajeto que o grupo toma naquele dia. Lugares que nunca receberam a visita da Bicicletada (ou receberam uma vez e nunca mais) veriam todo mês uma massa de bicicletas passando.
Mais importante, ciclistas que nunca pensaram em se juntar à Bicicletada por morar muito longe da avenida Paulista poderiam se juntar à concentração mais próxima de casa. O número total de ciclistas mobilizados na cidade seria muito maior.
Santo Amaro, Mooca, Santana, Tatuapé, Capela do Socorro, Ermelino Matarazzo, Freguesia do Ó, Guaianases, Capão Redondo, Lapa, São Mateus, Butantã, São Miguel Paulista, Pirituba, Grajaú, Cidade Tiradentes, Parelheiros, Penha. A distância entre alguns desses distritos é maior do que, por exemplo, entre Osasco e Carapicuíba, ou mesmo entre o centro de São Paulo e Diadema.
São Paulo é uma cidade bem grande, não é? Por que deve ter uma única Massa Crítica? Um argumento razoável que já ouvi a favor da centralização é a possibilidade de formar volume, mostrar força. Acontece que isso cria outros problemas, além da dificuldade de participação para quem não pedala grandes distâncias.
Por conta de questões políticas e administrativas, o território do município de São Paulo ficou deste tamanho. Se por causa disso cairmos na armadilha de achar que a Bicicletada de São Paulo deve ser uma só, regiões mais distantes do centro ficarão eternamente condenadas a uma condição periférica, até mesmo quando o assunto é protesto. Aos ciclistas dessas regiões restam duas possibilidades: ou pedalam até a Paulista ou não participam.
Motoristas, comerciantes e subprefeitos de certas regiões jamais tiveram que se preocupar com a passagem da Massa Crítica. Precisamos ampliar o alcance do nosso protesto, levar a todos os cantos da cidade a reivindicação por nosso direito de uso do espaço público.
Ao fim da Bicicletada descentralizada, centenas de ciclistas seriam vistos se dispersando, a caminho de suas casas, pela cidade toda. No dia seguinte, alguém comentaria, “Ontem à noite tinha um monte de ciclistas pela rua”. A outra pessoa, que estava em outro canto da cidade, diria, “Engraçado, sabe que eu também vi vários deles aqui perto de casa!”.
A ação centralizada pode até parecer mais forte num primeiro momento, mas tem suas fragilidades. A internet foi criada justamente para descentralizar informações, evitando que recursos estratégicos guardados num único ponto fossem facilmente destruídos pelo adversário. Uma ação descentralizada, além de mais bonita, pode ser muito mais potente. Para mostrar que a cidade é nossa, precisamos ocupá-la por inteiro.
1 comentário Adicione o seu