Estão a horas de suas casas. Longe de seus territórios.
Na região central da metrópole, embarcam no metrô trazendo seus pertences em sacolas de supermercados. Carregam bagagem para passar o dia fora. Um pacote aberto de salgadinhos industrializados é sua refeição em trânsito, nem sempre há tempo ou dinheiro para sentar e almoçar decentemente. As tralhas todas revelam o seu desterro.
São refugiados na própria cidade.
Saíram de casa ainda escuro, viajaram por horas. Vieram atrás de hospital, emprego, parente, cartório, vênias burocráticas.
Depois retornarão. Gente condensada, chacoalhando dentro de uma lata com motor e motorista. Quilômetros, corredores, paradas, curvas, ladeiras, terminais. E ainda falta caminhar, caminhar.
Só então, de volta aos dormitórios. Lá, do outro lado de lá, onde vivem os seus.
A sociedade paulistana é realmente incrível. Garante mão de obra barata para explorar ao mesmo tempo em que consegue manter toda essa gente longe da vista.
Controle de fronteiras? Política de imigração? Nada disso. Gestão de transportes.
Na cidade em que vivo, não precisam de tijolos para isolar gente.
Aqui, os muros se medem em horas de distância.
Excelente texto. Parabéns!