Um bonde passa a centímetros das bicicletas e nada de ruim acontece.
Bicicletas, eventualmente carregando crianças, ficam encurraladas no meio da intersecção, entre o bonde e um automóvel. Ninguém encosta em ninguém.
Automóveis aproximam-se calmamente da intersecção cheia de ciclistas e pedestres e esperam sua vez de passar. Nenhuma buzinada, ninguém acelera ou joga o carro em cima das pessoas.
Motos e bicicletas compartilham a faixa harmoniosamente, nenhum xingamento.

Tudo isso é o que não acontece num fragmento de cinco minutos da vida em uma movimentada esquina no centro de Amsterdam.
O local é um ‘espaço compartilhado’, um cruzamento sem semáforo em que cada pessoa, qualquer que seja o seu modo de transporte, precisa negociar a passagem com os demais que estão usando o mesmo espaço.
Temos um tostines. Alguns pensarão que o semáforo é desnecessário porque as pessoas são capazes de negociar a passagem. Outros entenderão que as pessoas são capazes de negociar porque não existe um semáforo a lhes atrofiar essa importante habilidade interacional que é olhar os outros. Esses, se ainda não compreenderam, estão ao menos na direção de compreender a função civilizatória do projeto urbano, de cada elemento do sistema viário.
Para nós, que vivemos e alimentamos diariamente a selvageria no espaço público, o vídeo é chocante. Soa ficcional, uma visão distante de como funciona a vida em coletividade quando existe – na gestão pública como no chão da rua – cultura de convivência, respeito pelo outro.