esteiras rolantes

O que você acha mais cansativo: ficar quinze minutos parado em pé numa fila de atendimento ou caminhar por quinze minutos em um trecho plano entre sua casa e um comércio ou local de trabalho? Para mim, quinze minutos parado parecem intermináveis e, ao final desse tempo, sinto vontade de me mexer para descansar. Já ouvi muitas opiniões semelhantes, ainda que possa haver gente que pense o contrário.

Tento aqui, novamente, compreender o hábito de ficar parado naquelas esteiras rolantes planas ou quase planas que existem em grandes corredores públicos, como em terminais de aeroportos ou conexões entre estações de metrô. Há uma dessas, por exemplo, no corredor que liga as estações Paulista e Consolação da rede metroviária de São Paulo. Ali, é muito comum haver pessoas paradas na esteira.

A primeira hipótese poderia ser a famosa lei do mínimo esforço. Nesse caso, as pessoas ficariam paradas na esteira por considerar que isso é menos cansativo que continuar caminhando enquanto estão nela. Em teoria, o gasto energético de caminhar pode até ser maior que o de ficar parado em pé pelo mesmo período, uma diferença que deve equivaler a no máximo dois ou três grãos de arroz. Mas é preciso também considerar o aspecto do conforto, e é aqui que entra a pergunta que abre este texto. Ficar em pé estático (seja por dois minutos, quinze minutos ou duas horas) me parece mais cansativo que caminhar pelo mesmo tempo.

Foto: Negative Space / Pexels

Com poucas exceções (geralmente pessoas idosas ou com mobilidade reduzida), a velocidade da esteira é igual ou um pouco menor que a velocidade de caminhada da maioria das pessoas nesses locais de passagem. Basta você caminhar por fora da esteira e observar que a velocidade das pessoas paradas nela é igual ou um pouco menor que a sua.

Assim, o tempo gasto pela pessoa parada na esteira é igual ou um pouco maior que o de quem caminha por fora dela. Portanto, a menos que a pessoa goste muito de (ou precise) ficar parada, a hipótese do menor esforço deixa de ser uma explicação racional para a escolha de ficar parado. Além disso, se caminhasse pela esteira, o tempo gasto no trecho seria bem menor do que caminhar por fora dela.

Essas esteiras rolantes estão ali para encurtar o seu caminho. Se o corredor tiver 200 metros e o deslocamento da esteira, no tempo em que você passa nela, for de 50 metros, você precisará caminhar apenas 150 metros, certo? A esteira te ajuda. Portanto, quem fica parado na esteira se cansa mais e perde mais tempo do que quem caminha por ela.

A proposta de ficar parado só porque a esteira já está andando já é, por si só, bastante estranha. Ou será natural para tanta gente se sentir inerte como uma mochila numa esteira de bagagem, ou como mercadorias sendo montadas na esteira de uma linha de produção? Nessa escolha de ficar parada, a pessoa talvez considere que, se a máquina já está fazendo um determinado trabalho, ela está dispensada de fazê-lo (uso aqui trabalho no sentido físico, de aplicar uma força para produzir uma mudança, no caso, um deslocamento).

Atuando numa parceria envolvendo homem e máquina, caminhando pela esteira o trabalho seria muito mais eficiente: caminho encurtado, a pessoa anda menos, chega do outro lado em muito menos tempo. Mas o fato de a máquina estar ali trabalhando torna possível que a pessoa simplesmente não trabalhe, e isso é percebido como uma boa opção, mesmo que implique um gasto maior de tempo e energia. Parece existir um grande prazer na possibilidade de dizer: “se a esteira anda por mim, por que é que eu vou andar?”. Como se andar fosse um gesto dolorido e humilhante, do qual é preciso se livrar a qualquer custo.

Talvez essa situação revele um dado cultural curioso, que parece também estar por trás do uso que se faz do carro, do telefone, do computador e provavelmente de muitos outros recursos: a tecnologia e a máquina estão aí não para ajudar as pessoas, mas para substituí-las.

1 comentário Adicione o seu

  1. DALVA BUENO disse:

    Olá, Dionízio, você é um atento observador da cidade e dos hábitos dos seus moradores.

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