não mexe comigo

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Uma pesquisa feita no Colorado (EUA) revelou conexão entre o uso de adesivos automotivos e o comportamento agressivo ao dirigir. Segundo o artigo, publicado em 2008 no periódico científico Journal of Applied Social Psychology, motoristas que customizam seus carros com adesivos e outros adornos são mais propensas a atos de fúria viária do que outras pessoas.

Pediram aos participantes que descrevessem seus carros e especificassem se eles tinham itens de personalização como capas para bancos, pinturas diferenciadas, adesivos, equipamentos de som especiais, enfeites nos painéis. Entre outras coisas, perguntaram também como reagiam a certas situações comuns do dia a dia de quem dirige nas cidades.

Motoristas com maior número de itens personalizados em seus carros apresentaram uma propensão para atos de agressão 16% maior que o resto da amostra. Especificamente com relação aos adesivos, a pesquisa mostrou que é sua quantidade que tem correlação com a agressividade, independentemente do conteúdo.

Existe de fato alguma distância cultural entre os automobilistas do Colorado e aquilo que estamos acostumados a ver no Brasil. Mas a pesquisa chama a atenção para comportamentos semelhantes que, empiricamente, nos parecem de fato associados à agressividade.

Foto: divulgação

Formas de personalização de automóveis comuns hoje em dia são: adesivos com frases dirigidas diretamente a quem lê, algumas um tanto agressivas; escapamentos projetados para fazer mais barulho; lâmpadas especiais nos faróis para torná-los cegantes; luzes iluminando a parte inferior do carro; equipamentos de som extremamente potentes; rodas especiais; suspensão rebaixada. Parece não haver limites nas estratégias que os meninões encontram para chamar atenção.

Entre os adesivos, há também aqueles que carregam uma intenção clara, ainda que implícita, de intimidação: escolas ou linhagens de jiu-jitsu e outras técnicas de luta; distintivos de órgãos oficiais, indicando uma posição de poder; o brasão da república; academias militares; certas formações acadêmicas. Este tipo de mensagem nos adesivos são um recado para que os outros evitem mexer com eles, disputar espaço, discutir, dizer que estão errados, arrumar confusão.

O antropólogo Roberto DaMatta já demonstrou, em análises aprofundadas e fartas em exemplos, como o gesto de dizer “você sabe com quem está falando?” tem um sentido muito bem definido e aponta para um dado estrutural na cultura brasileira. Sabemos que há também formas de passar essa mesma mensagem intimidatória sem necessariamente proferir verbalmente a frase clássica.

Quando paramos para olhar esses aspectos da cultura do automóvel, mais uma vez acabamos concluindo que as ruas são mesmo uma selva onde a lei do mais forte tende a imperar. O grande problema é que essas pessoas, muitas delas despreparadas para o convívio social, estão de posse de uma arma letal capaz de esmagar quem estiver pela frente.

Essa gente é perigosa. É sempre bom conhecer aqueles com quem compartilhamos a cidade.

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